PROPOSTA DE REDAÇÃO:
Após a leitura dos textos de apoio abaixo, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “As incertezas da atualidade”. Não se esqueça de selecionar os melhores argumentos para defesa de seu ponto de vista, e inseri-los em um texto coerente, organizado e coeso.
Texto 1:
“A incerteza como regra quando o futuro é mais nebuloso
A viagem adiada, o emprego sob risco, o negócio próprio sem receita, a escola sob dúvida, a possibilidade de trazer um vírus para casa cada vez que se vai ao supermercado. São situações da pandemia que criaram uma rotina formada por incertezas.
A incerteza já era um fator definidor da década de 2010 – uma sensação alimentada por dificuldades econômicas, divisões políticas, aceleração tecnológica e problemas ambientais. Intensificou-se a ausência de fixidez nos diversos aspectos da vida, algo que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman definiu como sendo a marca de um “mundo líquido”. Até a tradicional âncora dos fatos e da verdade se soltou, à medida que a desinformação ganhou terreno.
Na crise sanitária, o futuro ficou em aberto. Tradicionais pilares de certeza, como governos, médicos e cientistas, tentam entender o que acontece quase ao mesmo tempo em que a população.
Setores econômicos e sociais ficaram à mercê da sorte. Cinco milhões de postos de trabalho foram embora entre o fim de janeiro e o fim de abril no Brasil. Quase metade dos trabalhadores da cultura perdeu 100% da sua receita entre maio e julho no país.
Cerca de 38 milhões de brasileiros, os chamados “invisíveis”, terão que enfrentar um futuro incerto quando o auxílio emergencial for interrompido.
O tempo nos pregou peças, parecendo ora arrastado, ora rápido demais. A antropóloga americana Jane Guyer caracterizou nossa vivência de tempo durante a crise sanitária de “presentismo forçado”: a sensação de estar preso no presente, combinada com a incapacidade de planejar o futuro.”
Disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/especial/2020/12/30/20-caracter%C3%ADsticas-de-noss o-tempo-que-o-ano-de-2020-escancarou
Texto 2:
“Vencendo as incertezas para superar a pandemia do coronavírus
Por Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes, Adriana Marotti de Mello e Ana Carolina de Aguiar Rodrigues, professores do Departamento de Administração da FEA/USP
A incerteza é um dos maiores desafios para a ciência, governos, negócios, e para a sociedade. A pandemia do coronavírus (covid-19) revela uma nova série de grandes incertezas, em diferentes aspectos: como tratar os doentes?; quando teremos uma vacina?; o que faremos até lá?; até quando durará o isolamento social?; quais serão os efeitos na economia e como mitigar os efeitos negativos?; entre tantas outras. Mas como podemos enfrentar e como superar tais incertezas? Para tanto, precisamos entender o que é uma incerteza (e que problemas ela coloca para a ciência, negócios e sociedade), assim como de que forma iremos responder a ela.
Frank Knight foi pioneiro ao diferenciar a incerteza do risco. Na sua clássica concepção, Knight[1] , em 1921, argumentou que risco se refere às situações nas quais é possível atribuir uma função de probabilidade aos resultados de um dado evento, enquanto a incerteza se refere aos contextos nos quais isso não é possível. Disso decorre que, em uma situação envolvendo incertezas, não existe histórico suficiente que nos permita fazer previsões. Por exemplo, em um lançamento de um novo celular, dados passados permitem que as empresas projetem as suas vendas, a reação dos competidores, estratégias de preço, comportamento dos consumidores, entre outros aspectos.
No caso da saúde, quando estamos lidando com doenças conhecidas e estudadas, é possível prever o número de doentes que o sistema de saúde (público e privado) irá receber em um dado período. Podemos assim estimar a demanda por equipamentos, profissionais de saúde, insumos (como medicamentos), entre vários outros aspectos. Já para os contextos ligados à incerteza, simplesmente não sabemos: não temos dados suficientes para fazer previsões. É o que nos ensinou Knight. Esquecido, o seu trabalho foi posteriormente recuperado pelo economista John Maynard Keynes[2] (1937) para mostrar como a incerteza quebrava a lógica da previsão na economia. Como Keynes destacou, “não existe base científica para calcular nenhuma forma de probabilidade. Nós simplesmente não sabemos”.
De fato, uma primeira consequência da incerteza para a vida humana é a impossibilidade de realizarmos previsões. Se não temos dados históricos de
uma dada situação, não temos como fazer previsões. Mas o problema da incerteza e as suas consequências vão além da inviabilidade de se utilizar previsões para a tomada de decisões. É, essencialmente, o que as incertezas provocam em três aspectos fundamentais de uma situação como a atual pandemia: qual é de fato o problema ou os problemas que estamos enfrentando?; quais são as soluções?; e quais são as consequências dessas eventuais soluções?
A inexistência de um histórico para apoiar a tomada de decisão cria um desafio para o conhecimento (ou epistemologia) em termos da sua validade e justificativa. Como o próprio problema em si é incerto (os seus limites: problema de saúde pública, econômico, social, atores etc.), e, consequentemente, as soluções, atores podem estabelecer diferentes narrativas ou teses sobre o problema em si.(…)”
Disponível em:
https://jornal.usp.br/artigos/vencendo-as-incertezas-para-superar-a-pandemia do-coronavirus/
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Maíra Pereira é psicanalista, psicopedagoga e professora particular de Língua Portuguesa e Redação. É graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, possui Pós-graduação em Psicopedagogia e Neurociências e atua também como revisora de textos em Língua Portuguesa.