Nos muros das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, pode-se encontrar desenhos, letras e pinturas alternativas que chamam a atenção de quem passa por suas ruas. Pichação e pichadores estão em praticamente todas as metrópoles do país. Embora a legislação brasileira considere crime ambiental, a pichação é um ato de expressão artística. No entanto, muitas vezes, este meio de expressão é estereotipado e retratado como vandalismo pela classe dominante e pelos órgãos públicos.
Neste sentido, a pichação é uma forma de arte, uma vez que arte pode ser entendida como a materialização expressiva de um pensamento, sentimento ou ideal. Tomando como base essa definição, as pichações se encaixam em uma expressão artística, já que representam um sentimento, manifestação ou protesto de populações que têm suas vozes abafadas pelo sistema capitalista e necessitam emitir suas mensagens nos muros das grandes cidades.
Por conseguinte, considera-se que a criminalização da pichação acontece devido a preconceitos, além de necessidades de imposição cultural de formas artísticas tradicionais que expressam apenas os ideais de uma elite. Neste sentido, as pichações, apesar de terem tanta relevância estética e simbólica quanto um quadro modernista, passam a ser desvalorizadas e até banidas do cenário urbano por leis retrógradas.
Portanto, uma vez que os legisladores brasileiros menosprezam e criminalizam atos de expressão artística como a pichação, torna-se urgente valorizar e ressignificar seu lugar na cultura urbana, através de incentivos governamentais. Tais incentivos devem patrocinar artistas urbanos em formação através de exposições ao ar livre, feiras culturais e divulgação midiática de pichações urbanas, as quais representam os imaginários de grupos sociais muitas vezes oprimidos e colocados à margem dos espaços privilegiados.
Artigos Relacionados
Image

Maíra Pereira é psicanalista, psicopedagoga e professora particular de Língua Portuguesa e Redação. É graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, possui Pós-graduação em Psicopedagogia e Neurociências e atua também como revisora de textos em Língua Portuguesa.